EnviroMail 51 Brasil
Análises Hidrobiológicas
A importância do monitoramento da biota aquática como indicador da qualidade da água

Assim como o corpo humano revela sua saúde por meio de sinais vitais, os ecossistemas aquáticos se expressam por meio das formas de vida que neles habitam. Peixes, algas, insetos, moluscos e muitos outros organismos são bioindicadores que refletem a saúde de lagos, rios, pântanos, reservatórios e zonas costeiras. Sua presença (ou ausência) traduz as condições físicas, químicas e biológicas do ambiente.
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A biota aquática (o conjunto de organismos que vivem na água doce ou salgada) é um dos indicadores de qualidade ambiental. Estudos biológicos revelam mudanças sutis ou crônicas ao longo do tempo, como uma memória viva do ecossistema.
Cada organismo aquático tem uma tolerância específica a fatores como oxigênio dissolvido, poluentes, temperatura, turbidez e nutrientes. Alterações nessas condições modificam a composição da comunidade biológica, sendo um alerta claro de desequilíbrio ambiental.
A situação da biota pode indicar:
• Eutrofização por excesso de nutrientes, levando à proliferação de algas, queda de oxigênio e morte de espécies sensíveis.
• Contaminação invisível, como metais pesados ou pesticidas, que afetam a estrutura trófica mesmo quando não são detectados por análises-padrão.
• Transformações no habitat, como assoreamento, canalizações ou desmatamento de matas ciliares.
• Impacto de atividades humanas, como descargas industriais ou esgoto doméstico.
• Fragmentação de habitats, interferindo no ciclo de vida de espécies migratórias.
Para que serve?
Além de diagnóstico, o estudo da biota aquática serve como ferramenta estratégica para:
• Identificação de áreas prioritárias para conservação e restauração.
• Avaliação da eficácia de programas de compensação ambiental.
• Comparações temporais (linha de base vs. pós-projeto).
• Previsão de riscos ecológicos.
• Subsídio técnico para decisões em políticas públicas e gestão ambiental.
Amostragem: Coletando sinais da vida
Amostragem biológica não é apenas coletar organismos: é desvendar o amplo a partir das informações que podem fornecer. A avaliação hidrobiológica começa com um olhar atento para o ambiente aquático que se deseja estudar. Pode ser um rio sinuoso, um lago tranquilo ou até mesmo um reservatório. Esses locais, muitas vezes, enfrentam pressões como o lançamento de esgoto, a expansão agrícola ou atividades de mineração. É nesse contexto que se define os pontos de estudo e elabora um plano de amostragem, considerando as variações naturais do ambiente, como as épocas de seca e cheia.
Em campo, o trabalho é feito com dedicação e precisão. São coletadas amostras de diferentes formas de vida aquática — desde pequenos invertebrados que vivem no fundo dos rios (os chamados macroinvertebrados bentônicos), até algas microscópicas, peixes e o perifíton (organismos que vivem fixos em superfícies submersas). Esses seres vivos são verdadeiros indicadores biológicos, capazes de revelar, com suas presenças ou ausências, a saúde do ambiente em que vivem.
No laboratório, cada organismo é identificado e analisado. Com base nesses dados, são aplicados índices bióticos, que transformam a diversidade e abundância das espécies. Essa avaliação permite indicar a qualidade ecológica do ecossistema.
Essa avaliação é suportada por informações físico-químicas da água (como pH, oxigênio dissolvido e nutrientes) e dados sobre o uso do solo e possíveis fontes de contaminação. No fim, o que se obtém é um diagnóstico ambiental, essencial para planejar ações de conservação, orientar políticas públicas, emitir licenças ambientais ou definir metas para a recuperação de rios e lagos.
Antes de coletar
• Objetivo claro: monitoramento, impacto pontual ou avaliação integrada?
• Tipo de biota: Peixes? Plâncton? Macrófitas?
• Local e momento certos: o contexto define o que será revelado.
• Equipamento adequado: redes, potes, gelo, conservantes, etiquetas e câmeras — como uma expedição científica de bolso.
Durante a coleta
Métodos respeitam os organismos e garantem representatividade:
• Macroinvertebrados: redes Surber ou dragas.
• Plânctons: filtragem com redes de malha micrométrica.
• Peixes: capturados e registrados (biometria, conteúdo estomacal).
• Macrófitas e perifíton: identificadas por hábito e coletadas com escovas ou espátulas.
Após a coleta: Preservar é proteger dados
• Conservantes como formalina, etanol ou Lugol.
• Armazenamento a 4 °C para evitar degradação.
• Rotulagem rigorosa: como selar uma carta para o futuro.
• Prevenção de contaminações cruzadas e transporte cuidadoso.
Laboratório: Onde a vida se revela
Analisar organismos é mais que observar. É interpretar códigos de uma linguagem biológica:
• Microscopia óptica e estereoscópica com lentes de precisão.
• Chaves taxonômicas atualizadas para América Latina.
• Índices ecológicos como BMWP/Col, Shannon-Wiener, Simpson, Margalef.
• Software estatístico como R e PRIMER, para análises multivariadas e modelagens.
A identificação taxonômica é vital: confundir uma espécie pode alterar toda a interpretação ambiental - como diagnosticar errado uma doença.
Portfólio de serviços hidrobiológicos da ALS Ambiental no Brasil
Análise | Método de Referência |
Fitoplâncton | SM 10200 F – Ed. 24, 2023 |
Zooplâncton | SM 10200 G – Ed. 24, 2023 |
Perifiton | SM 10300 C – Ed. 24, 2023 |
Macrofauna Bentônica | SM 10500 C – Ed. 24, 2023 |
Cianobactérias | SM 10200 F – Ed. 24, 2023 |
Toxicidade - Raphidocelis subcapitata | ABNT NBR 12648:2018 |
O monitoramento e a análise de ecossistemas aquáticos no Brasil são orientados por um conjunto robusto de normas, resoluções e diretrizes técnicas estabelecidas por diferentes órgãos ambientais. Essas referências fornecem a base legal e metodológica para a realização de estudos hidrobiológicos, especialmente no contexto de licenciamentos ambientais, diagnósticos ecológicos e programas de monitoramento.
Tipo de documento | Órgão responsável | Aplicação principal |
Resolução CONAMA nº 357/2005 | CONAMA / MMA | Classificação de corpos d’água e padrões de qualidade com enfoque ecológico. |
Lei nº 9.605/1998 | Governo Federal / MMA | Crimes ambientais relacionados à fauna e ecossistemas aquáticos. |
IN MMA nº 03/2014 | Ministério do Meio Ambiente | Regras para licenciamento federal com exigência de dados da biota aquática. |
Resolução CONAMA nº 01/1986 | CONAMA | Requisitos mínimos para EIA/RIMA, incluindo fauna e flora aquática. |
Manual de Monitoramento da Fauna Aquática | IBAMA | Protocolos de coleta e análise de peixes e macroinvertebrados. |
Diretrizes para Monitoramento da Biodiversidade Aquática | MMA | Procedimentos para levantamento e monitoramento de comunidades aquáticas. |
Guia Nacional de Coleta e Preservação de Amostras | ANA / CETESB / CPRM / IBGE | Protocolos padronizados para coletas biológicas em água e sedimentos. |
Procedimentos de Avaliação com Bioindicadores | CETESB | Índices bióticos aplicados ao monitoramento de qualidade ecológica da água. |
INQA – Inventário Nacional da Qualidade da Água | ANA | Avaliação integrada de qualidade da água com dados físico-químicos e biológicos. |
Planos de Bacias Hidrográficas (CBHs) | Comitês de Bacias Hidrográficas | Avaliação e monitoramento regional com enfoque em qualidade ecológica da água. |
EIA/RIMA, PMA, PBA, etc. | Órgãos licenciadores / Consultorias | Aplicação prática dos protocolos hidrobiológicos em empreendimentos. |
As análises hidrobiológicas são mais que exigências legais, permitem a compreensão indireta do meio. Ao estudar a biota, entendemos impactos, prevemos riscos e construímos um futuro mais equilibrado.
Na ALS, oferecemos não apenas precisão analítica, mas também paixão por cada ser vivo que habita a água. Porque entender os rios é entender a vida. E quando observamos com ciência e sensibilidade, nos tornamos guardiões do que ainda pode ser salvo.